Bolsa brasileira vive maior jejum de IPOs

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Rafael Antares

A Bolsa brasileira enfrenta seu mais longo período sem IPOs desde 2004

Desde dezembro de 2021, nenhuma empresa fez sua oferta pública inicial (IPO Brasil), acumulando quase quatro anos de paralisação. O cenário é resultado direto de juros elevados e instabilidade política, fatores que afastam tanto o investidor local quanto o estrangeiro do mercado de capitais brasileiro, impactando a oferta de IPOs B3.

“A escolha de um presidente e de um Congresso preocupados com a saúde das finanças públicas encerra a incerteza política”, aponta Rafael Oliveira, gestor da Kinea, reforçando que apenas um novo ciclo político pode destravar a fila de IPOs na Bolsa de Valores Brasileira.

Especialistas afirmam que a janela para novas aberturas de capital deve permanecer fechada por pelo menos mais 15 a 18 mesesm com otimismo reservado apenas para o pós-eleição de 2026, caso o governo eleito sinalize responsabilidade fiscal e favoreça os próximos IPOs.

A retração de IPOs reflete a falta de apetite ao risco e liquidez reduzida na Bolsa

Com a Selic em 15% e o Ibovespa longe dos múltiplos históricos de preço sobre lucro, investidores preferem títulos de renda fixa a investimento IPO, deixando empresários relutantes em vender empresas a preço baixo. Em contraste ao boom dos IPOs anterior, 74 ofertas públicas iniciais captaram R$109 bilhões entre 2020 e 2021, mas a maioria decepcionou: 61% das novas ações IPOs desvalorizaram e 14 empresas (19%) saíram da B3, evidenciando o desempenho IPO aquém do esperado.

O número de empresas listadas recuou 10% desde o fim de 2021, e metade das operações diárias está nas mãos de algoritmos de alta frequência, refletindo uma Bolsa mais voltada para o curto prazo.

Oliveira destaca: “A redução da paciência dos investidores, que buscam retornos rápidos, acentua esse ciclo de menor interesse e contribui para o jejum de IPOs no cenário IPO Brasil”.

Sem IPOs, empresas recorrem a outras soluções financeiras e estratégias

Com o canal tradicional de captação fechado, companhias vêm apostando em emissões de debêntures, CRIs e CRAs para alongar dívidas. Outra tendência: recompra de ações, justificando a percepção de subvalorização dos papéis, apesar do desinteresse do mercado de capitais e do cenário restritivo para a estreia na bolsa.

De acordo com Haroldo Machado, da TCP Partners, emissões estruturadas e recompras são alternativas viáveis para o caixa corporativo, enquanto o advogado Victor Baptistin prevê que o movimento de fechamento de capital deve continuar ao longo de 2024 e 2025, na busca por eficiência operacional e custos menores na esteira dos baixos preços da Bolsa de Valores Brasileira.

O horizonte de reabertura dos IPOs vai depender:

  • Da definição do ambiente fiscal e inflacionário no cenário global.
  • Do retorno da confiança mercado em ativos de risco.
  • E, sobretudo, de múltiplos mais elevados nas ações já listadas, o que tende a abrir espaço para novas companhias e contribuir para a retomada IPOs.

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Rafael Antares