Bolsa Cai Após Pacote: Incerteza Fiscal Pesa no Risco Fiscal Brasileiro

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Júlio César Antunes

Mesmo com socorro ao tarifaço, investidores temem rombo nas contas públicas, aumento do risco fiscal e punem ativos brasileiros.

O anúncio do pacote emergencial para empresas não acalmou o mercado: agentes de mercado e investidores reagiram com preocupação diante do risco fiscal.

O governo federal divulgou um plano de R$ 30 bilhões em crédito especial para exportadoras e ampliou o programa Reintegra, tentando suavizar o impacto do “tarifaço” de 50% imposto pelos EUA a produtos nacionais. Apesar do tom esperado das medidas e seu volume modesto, a reação dos agentes de mercado foi marcada por cautela, refletindo preocupação crescente com o risco fiscal brasileiro. O Ibovespa fechou em baixa de 0,9%, com predominância de papéis em queda, 67 das 84 ações do índice recuaram.

Segundo analistas, a ansiedade do mercado recai menos sobre a eficiência do pacote e mais sobre suas consequências para as contas públicas e o orçamento público. “A preocupação fiscal continua no radar. O governo sinalizou que o valor pode aumentar se a situação piorar, o que só aumenta a incerteza quanto à sustentabilidade fiscal”, explica Sara Paixão, da InvestSmart XP.

O dólar, em contramão ao desempenho internacional, se valorizou frente ao real, alcançando R$ 5,40, reforçando o clima de cautela entre os investidores locais e acentuando as dúvidas sobre as finanças públicas e a credibilidade fiscal do país.

O mercado teme que as medidas abalem o frágil equilíbrio das finanças públicas brasileiras e aumentem a dívida pública brasileira.

Embora o crédito extraordinário esteja fora do teto de gastos, ele pesa sobre a meta de resultado primário zerado para 2025. “Será preciso monitorar se as medidas serão, de fato, transitórias”, alerta André Valério, do banco Inter. O risco, diz ele, é o pacote virar política fiscal permanente, o que poderia agravar distorções e dificultar o controle da inflação, além de elevar o spread de risco e comprometer o rating de crédito do Brasil.

O efeito fiscal desse socorro é particularmente sensível num ambiente em que juros altos, tributação elevada e desconfiança dificultam o ajuste das contas públicas. Taxas futuras de títulos públicos subiram nos prazos mais longos, espelhando a percepção de risco elevado sobre o cenário fiscal brasileiro até 2036, e levando à reprecificação do risco país nos mercados.

Outros fatores contribuíram para o pessimismo do pregão, como a realização técnica de lucros e resultados decepcionantes de algumas empresas impactadas por ações judiciais da União e aumento do déficit público.

A cautela global e balanços frustrantes agravaram a aversão ao risco no mercado financeiro brasileiro.

Os desdobramentos do pacote coincidiram com volatilidade externa: bolsas americanas resistiram bem ao “sobe-e-desce” causado por tensões geopolíticas, mas o Ibovespa não escapou. “Não foi só o pacote, mas também uma junção de preocupações fiscais, realização de lucros e ambiente externo instável”, sintetiza Otávio Araújo, da Zero Markets Brasil.

Entre as poucas altas do dia, destaque para MRV (+6,63%) e SLC Agrícola (+1,35%). Do lado negativo, Pão de Açúcar (-10,56%) e CVC (-10,78%) figuraram entre as maiores quedas, refletindo o ambiente de aversão ao risco e frustração com balanços. O movimento foi acompanhado por investidores estrangeiros atentos à política econômica, à inflação risco fiscal e às perspectivas para os investimentos Brasil.

O volume negociado, de R$ 16,7 bilhões, ficou em linha com a média dos últimos meses, mostrando um mercado ainda desconfiado e pragmático diante de incertezas como despesas públicas crescentes, volatilidade do IOF imposto sobre operações financeiras e riscos para o tesouro direto e CDB risco fiscal.

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Júlio César Antunes