Cinema europeu perde Claudia Cardinale aos 87 anos

Ícone do cinema europeu deixa legado plural e questiona os limites do estrelato contemporâneo.
A atriz franco-italiana Claudia Cardinale faleceu aos 87 anos, marcando o fim de uma era no cinema europeu. Figura central nas telonas desde o final dos anos 1950, Cardinale nasceu em Tunis, capital da Tunísia, em 1938.
Sua trajetória começou ao vencer um concurso de beleza que a levou ao Festival de Veneza, dando início à carreira que a tornaria uma das maiores personalidades do cinema europeu do pós-guerra. Ao longo das décadas, atuou ao lado de lendas como Alain Delon e Henry Fonda, consolidando-se não apenas como um rosto, mas como símbolo de uma Europa artística em transformação.
Laurent Savry, agente da atriz, ressaltou: "Ela nos deixa o legado de uma mulher livre e inspiradora, tanto na sua trajetória pessoal quanto artística".
Referência feminina e símbolo de emancipação, Claudia Cardinale construiu uma carreira que atravessou fronteiras e estilos dentro da indústria cinematográfica europeia. Ganhou destaque internacional em longas emblemáticos como “O Homem que Riu” (“Aconteceu no Oeste”, 1969) e marcou presença em produções hollywoodianas como “A Pantera Cor-de-Rosa” (1963).
Apesar de sua atuação em Hollywood ter sido discreta, Cardinale optou por fortalecer sua identidade em um cinema europeu mais autoral, contribuindo para a criação de uma personagem feminina complexa e autônoma nas telas.
Entre suas principais conquistas e momentos marcantes:
- Recebeu em 1993 o Prêmio de Honra do Festival de Veneza, um dos principais festivais de cinema europeu.
- Ganhou o Urso de Ouro honorário em Berlim (2002), reconhecimento à sua trajetória na cinematografia europeia.
- Homenageada com o Prêmio Carreira em Portugal, no Festival Internacional de Cinema do Funchal, reafirmando sua importância na história do cinema europeu.
O impacto cultural de Cardinale transcende o cinema europeu, provocando reflexões sobre a presença feminina nas artes e na sociedade. Sua carreira manteve-se ativa até 2022, com trabalhos recentes em “The Island of Forgiveness” e “Claudia”.
O reconhecimento internacional, os prêmios e o respeito de pares atestam sua influência duradoura, aproximando questões como representação, envelhecimento nas artes e o papel da mulher enquanto agente e não mera espectadora em suas narrativas no cinema da Europa.
Contextualizando, sua vida profissional reflete mudanças profundas: da beleza como critério de entrada nos anos 1950 até discussões atuais sobre igualdade de gênero e protagonismo. Cardinale parece ter compreendido e impulsionado essas transformações, tornando-se referência além do glamour, num momento em que a produção cinematográfica europeia se reconfigurava.