Esquerda Retoma as Ruas Contra Anistia e Blindagem

Manifestações massivas desafiam hegemonia da direita e pressionam Congresso diante de projetos de impunidade política.
O espectro progressista volta a ocupar espaços públicos, forçando o debate nacional sobre a mobilização política da esquerda.
Após um longo período de baixa mobilização popular, a esquerda brasileira mostrou força ao reunir dezenas de milhares de manifestantes em várias capitais, no domingo, 21 de setembro de 2025. O estopim: a rejeição ao PL da Anistia e à PEC da Blindagem, ambos vistos como tentativas de proteger figuras políticas do rigor da lei. “O Brasil inteiro está revoltado com a PEC da bandidagem e com a anistia para golpistas”, afirmou o deputado Rogério Correia (PT-MG), ecoando o tom dos protestos.
Nas principais capitais, multidões se concentraram para defender a democracia e a responsabilização dos condenados, configurando manifestações contra Bolsonaro e a anistia 8 de janeiro. Em Belo Horizonte, cerca de 50 mil foram à Praça Raul Soares; em Brasília, o entorno do Museu da República recebeu 30 mil, com atos liderados por artistas engajados na política e políticos.
A Avenida Paulista, em São Paulo, também foi palco de grande mobilização contra a PEC da Blindagem. Salvador contou com trio elétrico, personalidades como Daniela Mercury e Wagner Moura, destacando que “a extrema-direita não se estabelece aqui”.
Pelas ruas, cartazes defendiam não só o fim da anistia e da blindagem, mas também pautas clássicas da esquerda, como a taxação dos super-ricos, tema frequentemente abordado nos discursos políticos de esquerda e em mobilizações nas redes sociais. Para aliados, o momento representa possível ponto de inflexão na disputa pela opinião pública e pelas ruas do país, mostrando a capacidade de mobilização contra a anistia e a força dos grupos políticos da esquerda.
Avanço legislativo de projetos polêmicos aprofunda polarização e provoca resistência social.
Na semana antecedente às manifestações, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC da Blindagem, que amplia privilégios para parlamentares e dificulta investigações. A PEC limita prisões em flagrante de deputados e senadores, exige aval das Casas Legislativas mesmo em casos graves, e expande o foro privilegiado no STF para líderes partidários.
No dia seguinte, foi aprovado regime de urgência para o PL da Anistia, acelerando sua tramitação e permitindo votação direta em plenário. Essa movimentação ressalta o impasse político no Brasil e mobiliza a esquerda brasileira.
A reação no Senado prometeu tensão: Alessandro Vieira (MDB-SE), relator na CCJ, anunciou que recomendará a rejeição da PEC. "A proposta mina a igualdade perante a lei", registrou nota da bancada do MDB. Otto Alencar (PSD-BA), presidente da CCJ, classificou a PEC como retrocesso democrático. Pesquisas do Datafolha reforçam o sentimento popular, 54% dos brasileiros refutam qualquer anistia aos golpistas de 8 de janeiro.
Como desdobramento imediato, os protestos das ruas prometem pressionar senadores a enterrar a PEC e dificultar um eventual perdão aos condenados por quebra democrática, evidenciando a ocupação dos espaços políticos pela mobilização contra a anistia e contra a PEC Blindagem.
Julgamento de Bolsonaro e repercussão internacional elevam clima político e tensionam relações externas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, após condenação por tentativa de golpe de Estado em setembro. O processo incluiu denúncias de obstrução à justiça e mobilização internacional: nos EUA, Eduardo Bolsonaro tentou articular pressão diplomática para interromper o julgamento do pai, contando inclusive com respaldo de Donald Trump, agora presidente, que aplicou sanções econômicas ao Brasil.
O tema da anistia segue pendente: o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) já sinalizou restrições e promete não anistiar diretamente Bolsonaro, apesar de abrir espaço para revisão de penas. O STF mantém postura firme e a tramitação legislativa ainda reserva incertezas. Há possibilidade de recursos antes do início do cumprimento da pena, alimentando debates sobre a anistia dos envolvidos em 8 de janeiro.
O endurecimento de organismos judiciais e o novo dinamismo popular colocam o Brasil no centro de um debate global sobre democracia, anistia 8 de janeiro e accountability, amplificado pelos protestos de domingo e pela repercussão nas redes sociais.